sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Depois eu é que sou dogmático!


É feio ouvir a conversa dos outros. Eu aprendi isso desde cedo, mas hoje não teve jeito. Enquanto almoçava em um pequeno restaurante próximo de casa, assentaram-se ao meu lado duas pessoas; uma mulher, que pela aparência tinha seus 40 anos, e um adolescente que julgo ter seus 15 ou 16 anos. Com o transcorrer da conversa, descobri que eram mãe e filho. Algumas coisas me chamaram a atenção desde o começo do meu contato com este relacionamento. Primeiramente, fui tocado pela aparente liberdade existente entre eles. Eles falavam sobre a vida do menino, sobretudo sobre a vida afetiva e sexual do garoto. Contudo, aos poucos a minha reação de admiração pela liberdade, deu lugar ao sentimento de preocupação. Aquele relacionamento parecia não resguardar a distancia necessária entre MÃE e FILHO. A mulher mais parecia uma colega de seu filho perguntando-lhe e aconselhando-lhe sobre sua vida afetiva e sexual. Percebi que pais e filhos não se relacionam mais como antes, e de sobra, descobri que estou ficando velho, apesar de ter apenas 26 primaveras. Cultivei um bom relacionamento com meus pais durante a minha vida. Tivemos a oportunidade de desfrutar de um nível considerável de intimidade durante todo o tempo em que vivi sob suas asas e ainda hoje temos tido esse privilégio. Mas meus pais sempre foram meus PAIS. É verdade que algumas vezes os desrespeitei com a língua, os respondi, mas normalmente não tinha o costume de tratá-los como meus iguais. Eu sempre tive na mente que intimidade e respeito não são conceitos que se excluem, aliás, a Bíblia diz que a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem (Sl 25.14). Pais e filhos precisam ter uma relação de intimidade, mas não é necessário que pais deixem de ser pais, e filhos deixem de serem filhos, pra que isso aconteça.

O que mais me chamou a atenção, contudo, foi o assunto da conversa. Ambos falavam sobre a caretice dos pais da namoradinha, ou daquela que é o último casinho do garoto. A mãe interrogava o filho sobre a razão pela qual os pais da menina, não permitiam que ela ficasse até tarde com ele, nem que ela dormisse em sua casa. O garoto respondia dizendo não saber muito bem a razão pela qual isso acontecia, mas que a caretice dos pais da menina poderia ser explicada por dois fatores: 1) a família havia vindo do interior; 2) os pais da menina eram evangélicos. A conversa sobre o assunto terminou com a mãe traçando um perfil caricaturado dos evangélicos como um bando de obscurantistas, atrasados e dogmáticos (aqueles que não aceitam a opinião dos outros e acham que estão sempre com a verdade – uso a palavra no sentido pejorativo).

Pois bem, voltei pra casa refletindo no que havia acontecido e perguntando a mim mesmo: por que esta família evangélica foi tachada de dogmática? São apenas decisões diferentes. Se o mundo é tão pluralista, ou seja, aceita todas as opiniões e valores, por que os valores desta família não foram aceitos como valores válidos? A resposta é simples. É que a sociedade pós-moderna, embora vista uma roupagem de pluralismo e tolerância, também é dogmática. Com o discurso de libertar os indivíduos, a sociedade pós-moderna os escraviza. Em nossa sociedade você é livre para PERMITIR que seu filho durma na casa da namorada e vice-versa, mas não é livre para NEGAR. Você é livre para romper com os valores tradicionais, e pensar como a sociedade pensa, por que se pensar de maneira contrária, é tachado de intolerante, obscurantista e atrasado. E depois, eu é que sou dogmático!

Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. (Salmo 2.1-5)Filipe Fontes

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