sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Introdução - Escatologia


Falando de modo geral, há três sistemas gerais que professam expor os ensinos das Escrituras com respeito à Segunda Vinda de Cristo e o futuro curso do Reino. São eles: Pós-Milenismo, Amilenismo e Pré-Milenismo.
As pressuposições essenciais dos três são similares. Cada um sustenta que as Escrituras são a Palavra de Deus e autoritária. Cada um sustenta o mesmo conceito geral da morte de Cristo, como um sacrifício para satisfazer a justiça Divina e como o único fundamento para a salvação das almas. Cada um sustenta que haverá uma futura, visível e pessoal Vinda de Cristo. Cada um sustenta o tribunal de Cristo, que a justiça será recompensada no céu, e que o ímpio será punido no inferno. Cada um dos sistemas é, então, consistentemente evangélico, e cada um tem sido apoiado por muitos homens capazes e sinceros. A diferença levanta-se, não por causa de qualquer deslealdade consciente ou pretendida das Escrituras, mas primariamente por causa de distintivos métodos empregados por cada sistema em sua interpretação das Escrituras, e eles relacionam-se primariamente ao tempo e propósito da vinda de Cristo, e a espécie do reino que será fundado na Sua vinda.
Será útil ao princípio deste estudo definir cada um dos sistemas tão claramente como possível. Definições exatas não podem ser dadas, visto que numerosas variações são encontradas dentro de cada sistema. Todavia, submetemos o que se segue como essencialmente correto. O primeiro é o nosso próprio. Os últimos três, incluindo até o Dispensacionalismo, que é uma forma radical do Pré-Milenismo, são dados pelo Dr. J. G. Vos, um recente escritor e filho do Dr. Geerhardus Vos, o qual por muitos anos foi professor no Seminário Teológico de Princeton. Essas definições são apresentadas como as mais acuradas e compreensivas que encontramos.

PÓS-MILENISMO
Pós-Milenismo é aquela visão das últimas coisas que sustenta que o Reino de Deus está sendo agora estendido no mundo através da pregação do Evangelho e da obra salvadora do Espírito Santo; que o mundo será finalmente Cristianizado, e que o retorno de Cristo ocorrerá no término de um longo período de justiça e paz freqüentemente chamado o Milênio.
Esta visão é, certamente, distinta da otimista, porém falsa visão do aperfeiçoamento e progresso humano sustentado pelos Modernistas e Liberais, os quais ensinam que o Reino de Deus na terra será alcançado através de um processo natural pelo qual a humanidade será aprimorada e as instituições sociais serão reformadas e trarão um alto nível de cultura e eficiência. Esta ultima visão citada apresenta um espúrio ou pseudo Pós-Milenismo, e considera o Reino de Deus como um produto de leis naturais em um processo evolucionário, enquanto que o Pós-Milenismo ortodoxo considera o Reino de Deus como um produto da obra sobrenatural do Espírito Santo em conexão com a pregação do Evangelho.

AMILENISMO
“Amilenismo é aquela visão das últimas coisas que sustenta que a Bíblia não prediz um 'Milênio' ou período de paz e justiça na terra antes do fim do mundo. (O Amilenismo ensina que haverá um paralelo e contemporâneo desenvolvimento do bem e do mal - o Reino de Deus e o reino de Satanás - neste mundo, que continuará até a Segunda Vinda de Cristo. Na Segunda Vinda de Cristo a ressurreição e o julgamento ocorrerão, seguidos por uma eterna ordem das coisas - o absoluto e perfeito Reino de Deus, no qual não haverá pecado, sofrimento nem morte)”.

PRÉ-MILENISMO
“Pré-Milenismo é aquele visão das últimas coisas que sustenta que a Segunda Vinda de Cristo será seguida por um período de paz e justiça universal, antes do fim do mundo, chamado 'o Milênio' ou 'o Reino de Deus', durante o qual Cristo reinará como Rei em pessoa nesta terra. (Os Pré-Milenistas são divididos em vários grupos por suas diferentes visões da ordem dos eventos associados com a Segunda Vinda de Cristo, mas todos eles concordam em sustentar que haverá um milênio na terra depois da Segunda Vinda de Cristo, porém antes do fim do mundo)”.

DISPENSACIONALISMO
“O falso sistema de interpretação da Bíblia representado pelos escritos de J. N. Darby e pela Bíblia de Referência Scofield, que divide a história da humanidade em sete distintos períodos ou 'dispensações', e afirma que em cada período Deus trata com a raça humana sobre a base de alguns princípios específicos. (O Dispensacionalismo nega a identidade espiritual de Israel e da Igreja, e tende a colocar 'graça' e a 'lei' de encontro um ao outro como princípios mutuamente exclusivos)”.
A palavra milênio é derivada de duas palavras latinas, mille, significando milênio, e annum, significando ano. Portanto, o significado literal é mil anos. O termo é encontrado somente seis vezes nas Escrituras, todas nos primeiros sete versículos do vigésimo capítulo do Apocalipse, uma porção das Escrituras reconhecidamente difícil e altamente simbólica. O prefixo Pós-, A- e Pré-, como usados com a palavra, designam a visão particular sustentada com respeito aos mil anos. Os Pré-Milenistas tomam a palavra literalmente, sustentando que Cristo instalará um Reino na terra que continuará precisamente por este comprimento de tempo. Pós-Milenistas e Amilenistas tomam a palavra figurativamente, como significando um indefinido longo período, sustentado por alguns como sendo uma parte da era Cristã, e por outros como sendo ela toda.
Similarmente, a palavra Chiliasm [Quiliasmo], mais comumente usada na história da Igreja Primitiva do que na do tempo presente, vem da palavra grega chilias, também significando mil. Os Cristãos primitivos que criam que Cristo em Sua vinda instalaria um Reino de mil anos, eram chamados de Chiliasts. Em seu ambiente histórico, as palavrasChiliasm e Pré-Milenismo tem sido usadas como sinônimos, e é comumente entendido que aqueles que hoje usam o nome Pré-Milenistas são logicamente os mesmos que anteriormente eram conhecidos como Chiliasts, embora seus sistemas difiram em diversas considerações importantes.
Além disto, deve ser dito com respeito ao Dispensacionalismo que enquanto o Pré-Milenismo histórico tem sustentado que a Igreja passará pela Tribulação, o Dispensacionalismo sustenta que a Igreja será raptada, e assim retirada do mundo antes daquele evento; e que seguindo o Rapto, haverá um período de sete anos, durante a primeira metade do qual os Judeus estarão em aliança com o Anti-Cristo e residindo na Palestina, porém, na última metade eles sofreram terrível perseguição sob o Anti-Cristo. No final do período de sete anos Cristo retornará, aniquilará o Anti-Cristo, e estabelecerá Seu Reino em Jerusalém. Os judeus terão uma posição de especial favor no Reino, e permanecerão como um corpo distinto dos gentios durante toda a eternidade. Os Dispensacionalistas são dessa forma duplamente "pré-s" - Pré-tribulacionistas e Pré-Milenistas. Esta distinção é de grande importância para os Dispensacionalistas, porque isto lhes dá um período de sete anos, alegadamente a 70ª semana da profecia de Daniel (Daniel 9:24-27), durante qual período todos os eventos profetizados em Apocalipse capítulo 4 a 19 serão cumpridos.
Que os Dispensacionalistas dão grande importância a esta distinção é demonstrado pelo vigor com que eles atacam seus companheiros Pré-Milenistas que são Pós-Tribulacionistas, isto é, que sustentam que a Igreja atravessará a Tribulação.
Outra característica proeminente do Dispensacionalismo é sua doutrina que, quando os Judeus rejeitaram a alegada oferta de Cristo para o Reino Davídico, o Reino foi removido, e a Igreja foi então colocada como um substituto, - esta presente era da igreja é então um período de interlúdio ou parênteses, durante o qual período Deus trata com o homem através da Igreja até o retorno de Cristo, quando a Igreja será tirada e o Reino estabelecido.
O Dispensacionalismo é um desenvolvimento comparativamente recente. Essas visões distintivas foram primeira e efetivamente apresentadas por John N. Darby, um líder do grupo Irmãos Plymouth na Inglaterra, aproximadamente em 1830, e ultimamente popularizado pela Bíblia de Referência Scofield. A origem real deste sistema, todavia, era consideravelmente primitiva, como podemos descobrir quando discutimos a história do movimento.
Primariamente através da influência da Bíblia de Referência Scofield, com suas notas explanatórias impressas na mesma página com o texto, estas visões têm agora se tornado o prevalecente dogma do Pré-Milenismo nos Estados Unidos. Elas nunca foram encontradas em declarações de credos em qualquer uma das numerosas denominações Protestantes, mas são sustentadas por indivíduos em todas as denominações, e elas têm sido a regra de fé de vários grupos Pentecostais e de Santidade, os quais normalmente não são conhecidos por escolaridade ou pesquisa científica. Além do mais, eles têm sido popularizados por institutos Bíblicos, muitos dos quais são dispensacionais no seu ensino. Estas visões têm sido justamente como consistentemente rejeitadas e confrontadas na maioria dos seminários teológicos, onde à escolaridade e pesquisa são dadas mais proeminências, e por uma larga maioria dos proeminentes teólogos.
Não pode haver dúvida, porém, que o Pré-Milenismo proporciona a si próprio mais um tipo emocional de pregação e ensino do que o faz o Pós-Milenismo ou Amilenismo. Ele dá algo definitivo para se procurar em um futuro imediato e para se carregar o presente com possibilidades primorosas. Enquanto muitos dos que o sustentam não o usam assim, ele freqüentemente tem sido usado naquela maneira por aqueles que são menos refreados.
O Pré-Milenismo tende a fazer da Bíblia um compêndio de pronta referência, mais do que um livro de origem do qual as declarações devem ser coletadas, comparadas, colocadas em suas relações lógicas, e então organizadas em uma Teologia Sistemática. Eles professam “tomar Deus em Sua palavra”, e “aceitar a completa declaração da verdade como Deus a tem revelado”. Tal raciocínio tem seu lugar quando dirigido contra os modernistas que rejeitam a doutrina da completa inspiração das Escrituras. Mas está fora de lugar quando dirigida contra aqueles que, embora aceitando a doutrina da completa inspiração das Escrituras, reconhecem que muita verdade está transportada com expressões figuradas. O fato do assunto é que a revelação de Deus como encontrada na Bíblia, contêm muitos mistérios profundos e segredos que sempre têm e provavelmente sempre desafiarão os intelectos, até mesmo do mais sábio dos homens. As declarações superficiais sobre tomar Deus em Sua Palavra e sobre a clara harmonia da Palavra de Deus são ilusórias e devem ser suas próprias refutações. Rejeitando tais soluções fáceis, somos profundamente agradecidos à herança que os eruditos e as teologias da Igreja têm nos entregado. A profunda compreensão das Escrituras e a correlação destas doutrinas, não é algo que pode ser terminado em um dia, ou até durante toda uma vida, mas é uma tarefa para a Igreja durante todos os séculos. Dr. William H. Rutgers escrevendo sobre este assunto disse muito bem: “Se homens têm se engajado em batalhas intelectuais por séculos para resolver o problema Cristológico, e tantas outras muitas questões teológicas, não deve se esperar que a escatologia, o problema mais difícil da ciência teológica, seja esclarecida diferentemente [dos outros]. A segurança e a certeza com que muitos destes estudantes da Bíblia falam com respeito ao futuro programa de Deus, é somente orgulho e arrogância” (Pré-Milenismo na América, p. 42).
O Pré-Milenismo teve seu melhor sucesso e fez seus melhores ganhos no tempo da guerra ou da crise nacional quando os povos estavam ansiosos e angustiados sobre o futuro. Os clérigos Pré-Milenistas de todas as denominações reuniam-se em “conferências proféticas” para discutir eventos iminentes tais como o estabelecimento da nação de Israel na Palestina, os futuros movimentos da Rússia ou Alemanha, sinais de que a apostasia estava tomando seu curso, etc., supondo que eles [os eventos] tinham sido profetizados na “oculta” sabedoria de Daniel, Ezequiel, Zacarias, ou no Livro de Apocalipse.
As formas primitivas de Pré-Milenismo assim como as doutrinas dispensacionais presentes tem sido sustentadas usualmente, se não sempre, por uma minoria do povo Cristão. As distintivas doutrinas dispensacionais ocupam uma posição muito menos proeminente na Europa do que na vida da igreja Americana.
Há então, três principais visões concernentes ao retorno de Cristo: a Pós-Milenar, que sustenta que Ele retornará depois do Milênio; a Pré-Milenar, que sustenta que Seu retorno precederá o Milênio; e a Amilenar, que sustenta que não haverá um Milênio de nenhuma maneira no sentido geralmente aceito do termo. O Dispensacionalismo, às vezes enxergado como uma quarta visão, é na realidade somente uma forma mais extrema de Pré-Milenismo.
Pouca pretensão pode ser dada à originalidade deste livro. A maioria do que é dito aqui, foi dito antes por estudiosos muito superiores ao presente escritor. O propósito primário da presente obra é fazer disponível, em uma forma sumarizada e sistematizada, a informação concernente a estes problemas escatológicos que têm sido produzidos através das gerações, do cuidadoso estudo pelos melhores estudiosos que a Igreja produziu, para separar a verdade do erro, e para expressar esta verdade tão clara e convincente como possível. As citações das Escrituras são da American Standard Version [Versão Americana Padrão] de 1901 em preferência à King James, visto que a anterior é a mais acurada tradução.
Loraine Boettner, D.D.a
 Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto

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